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Vila Bela da Santíssima Trindade, um dos mais importantes marcos históricos de Mato Grosso, é um município que respira história e natureza exuberante. Localizada no Alto Guaporé, na Região Centro-Oeste do Brasil, esta cidade mato-grossense guarda em suas ruínas e paisagens um legado inestimável, sendo a primeira capital de Mato Grosso. Conhecer a história de Vila Bela é mergulhar nas raízes da formação do estado e entender a complexidade da colonização portuguesa no interior do Brasil.
Com coordenadas geográficas de 15º00'29" de latitude sul e 59º57'02" de longitude oeste, e a uma altitude de 198 metros acima do nível do mar, Vila Bela da Santíssima Trindade se destaca não apenas por sua relevância histórica, mas também por seu potencial turístico, especialmente para aqueles que buscam uma conexão profunda com o passado e a natureza. Em 2019, sua população era de 16.128 habitantes, composta por um povo que se orgulha de suas tradições e da herança cultural, em grande parte de origem africana.
A história de Vila Bela da Santíssima Trindade é intrinsecamente ligada à busca por riquezas minerais e à estratégia de defesa territorial de Portugal. Em 1752, a descoberta de jazidas no Rio Guaporé despertou o interesse da Coroa Portuguesa, que, ciente da proximidade com os domínios espanhóis e da iminente disputa por terras, agiu rapidamente para assegurar a posse da região. A urgência em povoar e estabelecer uma presença efetiva levou à criação da Capitania de Mato Grosso.
Assim, em 19 de março de 1752, em um ato de grande significado político e estratégico, foi fundada Vila Bela da Santíssima Trindade e estabelecida como a capital da recém-criada capitania. A escolha não foi aleatória; a localização às margens do Rio Guaporé facilitava o transporte e a comunicação, além de servir como um posto avançado contra possíveis incursões espanholas. Este período marcou um tempo de grande efervescência para a vila.
Durante seus anos como capital, Vila Bela da Santíssima Trindade experimentou um notável progresso. Portugal direcionou investimentos significativos para a infraestrutura da cidade, visando torná-la um centro administrativo e econômico pujante. Foram concedidos incentivos fiscais e outras benesses para atrair colonos e fomentar o povoamento da região. A intenção era clara: solidificar a presença portuguesa e extrair as riquezas minerais que motivaram sua fundação.
Nessa época, as cidades capitais do Brasil colonial acumulavam não apenas o poder executivo e legislativo, mas também o Poder Judiciário. A abrangência territorial de Vila Bela era impressionante, englobando vasta porção do oeste do atual estado de Mato Grosso e, inclusive, todo o território que hoje corresponde ao estado de Rondônia. Essa dimensão geográfica demonstra a centralidade e a importância estratégica que a vila possuía para a administração colonial portuguesa.
A influência de Vila Bela se estendia por uma região rica em recursos naturais e com grande diversidade cultural, incluindo povos indígenas e, posteriormente, a população de origem africana que seria fundamental para o desenvolvimento da cidade e para a preservação de sua identidade. O intercâmbio entre diferentes culturas e a necessidade de adaptação ao ambiente moldaram a sociedade local.
Apesar do período de progresso e da importância estratégica, a vida em Vila Bela da Santíssima Trindade era desafiadora. A distância dos grandes centros, as dificuldades de acesso, a incidência de doenças tropicais e os constantes ataques de povos nativos tornaram a manutenção da capital uma tarefa árdua. Some-se a isso o surgimento e o desenvolvimento de Cuiabá como um centro comercial mais consolidado e acessível, e o cenário para a transferência da capital estava montado.
Em 1835, a decisão de transferir a capital para Cuiabá foi tomada, marcando o início de um período de declínio para Vila Bela. O êxodo populacional foi inevitável, com muitos moradores abandonando suas casas, comércios e, tragicamente, muitos escravos, que foram deixados para trás. O que antes era um centro vibrante, tornou-se gradualmente uma localidade esquecida, com suas imponentes construções sendo engolidas pela vegetação e pelo tempo.
As ruínas da Igreja Matriz de Vila Bela da Santíssima Trindade, iniciada em 1793, são o mais eloquente testemunho desse passado glorioso e da posterior decadência. Hoje, situadas na praça central da cidade, essas ruínas são o símbolo maior de Vila Bela, chamando a atenção pela sua imponência, apesar dos mais de 200 anos de existência. As paredes de adobe, com mais de um metro de largura e seis de altura, resistem ao tempo, protegidas desde 2006, e representam o principal atrativo turístico e histórico do município.
A geografia de Vila Bela da Santíssima Trindade é tão rica quanto sua história. De acordo com a divisão regional do IBGE instituída em 2017, o município pertence às Regiões Geográficas Intermediária de Cáceres e Imediata de Pontes e Lacerda-Comodoro. Anteriormente, fazia parte da microrregião do Alto Guaporé, incluída na mesorregião do Sudoeste Mato-Grossense.
Um dos aspectos mais fascinantes de Vila Bela é sua característica de ecótono florestal de Mato Grosso. Isso significa que a região apresenta uma rica mistura dos três principais ecossistemas do estado: a Mata Amazônica, o Cerrado e o Pantanal. Essa convergência de biomas resulta em uma biodiversidade impressionante e paisagens de tirar o fôlego, tornando o município um paraíso para ecoturistas e pesquisadores.
Foi nessa região, inclusive, que os bandeirantes irmãos Paes de Barros, após percorrerem campos e cerrados, depararam-se com a exuberante mata do Guaporé. O contraste com a paisagem anteriormente observada sugeriu a eles o termo "Mato Grosso", que acabou por batizar o estado, revelando a importância paisagística da região desde os primórdios da colonização.
Dentro do território de Vila Bela da Santíssima Trindade está situado o Parque Estadual da Serra de Ricardo Franco, uma unidade de conservação de vital importância para a preservação ambiental de Mato Grosso. Este parque é um verdadeiro santuário ecológico, famoso por suas incontáveis cachoeiras e pela beleza intocada de seus rios e formações rochosas.
Entre as muitas maravilhas naturais do parque, destaca-se a Cachoeira da Jatobá, reconhecida como a maior cachoeira de Mato Grosso, com impressionantes 218 metros de altura. Sua grandiosidade atrai visitantes de todas as partes, que buscam a emoção de contemplar essa força da natureza e a oportunidade de se conectar com um ambiente verdadeiramente selvagem.
Além da Cachoeira da Jatobá, o parque abriga o espetacular Cânion da Jatobá. Formado pela ação erosiva do constante fluxo de águas cristalinas de córregos, rios e riachos, o cânion apresenta imensas "fendas" com paredes de rochas mais resistentes. A água, com tonalidades que variam entre azul e verde dependendo da incidência do sol, revela pequenos peixes, criando um cenário paradisíaco e preservado. A parte mais profunda do cânion atinge cerca de 8 metros. A trilha para acessá-lo é de nível fácil, com aproximadamente 5 km (ida e volta), embora a travessia do rio possa apresentar um ponto de dificuldade. É obrigatória a contratação de um condutor local ou guia para acessar o cânion, garantindo a segurança e a preservação do local. É importante notar que o nível da água no cânion varia significativamente ao longo do ano, podendo ficar totalmente seco no final do período de estiagem.
A beleza do Rio Guaporé também é um atrativo à parte. Em meio à vegetação exuberante, o rio corre lento, com seus aguapés, e com um pouco de sorte, o visitante pode até avistar um boto-cor-de-rosa, uma experiência única e memorável que reforça a riqueza da fauna local.
A população de Vila Bela da Santíssima Trindade é caracterizada por uma forte ligação com suas raízes, especialmente as famílias de origem africana que tradicionalmente habitam a região. Elas cultivam e preservam suas tradições e cultura através dos séculos, mantendo viva uma herança valiosa que se manifesta em suas festividades e manifestações artísticas.
A Festa de São Benedito é um exemplo vívido dessa rica herança cultural. Durante sua celebração, são exibidas as tradicionais danças do Congo e do Chorado, que representam a resistência, a fé e a alegria do povo vilabelense. Essas manifestações não são apenas espetáculos, mas sim um elo com o passado, uma forma de manter viva a memória e a identidade de uma comunidade que enfrentou e superou inúmeros desafios ao longo da história.
O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) de Vila Bela da Santíssima Trindade tem apresentado crescimento. Em 2000, o IDH-M do município cresceu 10,17% em relação ao levantamento de 1991, passando de 0,649 para 0,715. Esse crescimento foi impulsionado por melhorias significativas em áreas cruciais como:
No mesmo período, o hiato de desenvolvimento humano de Vila Bela da Santíssima Trindade foi reduzido em 18,8%. O município possui um desenvolvimento humano considerado médio (IDH entre 0,5 e 0,8), estando em uma posição intermediária tanto no contexto nacional quanto estadual.
A religião também desempenha um papel fundamental na vida da comunidade. De acordo com o censo de 2010, o Catolicismo é a religião predominante, com 65,2% da população, seguido pelo Protestantismo, com 27,6%. Outras religiões e pessoas sem religião compõem as demais parcelas, demonstrando a diversidade de crenças presentes no município.
Embora a história de Vila Bela da Santíssima Trindade tenha sido marcada pela mineração em seus primórdios, a economia atual do município, com um PIB de R$ 317.206,74 mil e um PIB per capita de R$ 19.846,51 (dados de 2018, IBGE), é impulsionada por outras atividades. O agronegócio, como em grande parte de Mato Grosso, desempenha um papel importante, com a pecuária e a agricultura sustentável ganhando destaque. A rica diversidade de biomas e a presença de áreas protegidas também abrem caminho para o ecoturismo e o turismo de aventura, setores com grande potencial de crescimento e que podem impulsionar o desenvolvimento local de forma sustentável.
A valorização do patrimônio histórico e cultural, aliada à beleza natural, posiciona Vila Bela da Santíssima Trindade como um destino diferenciado para quem busca história, cultura e aventura em Mato Grosso. A presença do Parque Estadual da Serra de Ricardo Franco e de atrativos como a Cachoeira da Jatobá e o Cânion da Jatobá a credenciam como um polo de turismo ecológico.
Para aqueles que desejam explorar as belezas e a história de Vila Bela da Santíssima Trindade, o acesso principal é por via terrestre. Partindo de Cuiabá, a capital de Mato Grosso, o percurso mais comum envolve as seguintes etapas:
É sempre recomendável verificar as condições das estradas, especialmente em períodos chuvosos, e planejar a viagem com antecedência para garantir uma experiência segura e agradável.
Em resumo, Vila Bela da Santíssima Trindade é muito mais do que um município; é um testemunho vivo da história do Brasil e de Mato Grosso. Suas ruínas, a natureza exuberante e a rica cultura de seu povo a tornam um destino único e imperdível. A cidade não apenas relembra o passado glorioso de sua fundação como primeira capital, mas também projeta um futuro promissor, baseado na valorização de seu patrimônio e na exploração sustentável de seus recursos naturais.
Ao visitar Vila Bela da Santíssima Trindade, o turista e o pesquisador têm a oportunidade de testemunhar a grandiosidade de um passado colonial, a resiliência de um povo e a magnificência de ecossistemas que se encontram em um só lugar. É um convite à reflexão sobre a formação do território brasileiro e sobre a importância de preservar a memória e a natureza para as futuras gerações. Vila Bela é, sem dúvida, uma joia do Centro-Oeste brasileiro e um orgulho para Mato Grosso.
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